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Sistema métrico

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Uma das quatro massas kg padrão mantido pelo Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia do governo dos Estados Unidos, que serve como padrão primário para todas as unidades de massa nos Estados Unidos. É uma cópia exata, feita em 1884, do International prototype kilogram mantido no Bureau International des Poids et Mesures em Sevres, França, que define a unidade de massa no SI, o moderno sistema métrico. Quarenta como quilogramas secundários foram feitos em 1884, e distribuídos para as nações para servir como normas nacionais.

O sistema métrico é um sistema de medição internacional decimalizado, que surgiu pela primeira vez na França, durante a Revolução Francesa, em virtude da dificuldade de funcionamento do comércio e da indústria devido à existência de diversos padrões de medida.

Desde os anos 1960 o Sistema Internacional de Unidades ("Système International d'Unités" em Francês, sigla "SI") foi reconhecido internacionalmente como sistema métrico padrão. Unidades métricas são universalmente utilizadas em trabalhos científicos, e amplamente utilizadas em todo o mundo para fins pessoais e comerciais. Um conjunto padrão de prefixos em potências de dez podem ser usados para derivar as unidades maiores e menores das unidades de base.

De acordo com o The World Factbook, publicado pela Central Intelligence Agency (CIA), o Sistema Internacional de Unidades é o sistema oficial de medidas para todas as nações do mundo, com exceção de Myanmar, Libéria e Estados Unidos[1] (algumas fontes, no entanto, identificam a Libéria como um país métrico).[2][3][4] No entanto, uma série de outras jurisdições têm leis que exigem ou permitem outros sistemas de medição em alguns ou todos os contextos, tais como o Reino Unido - onde, por exemplo, a regulamentação do tráfego de sinais (TSRGD) apenas permite exibir sinais de distância em unidades imperiais (milhas ou jardas)[5] - e Hong Kong.[6] Nos Estados Unidos, as unidades métricas são amplamente utilizadas nas ciências militares e, parcialmente, na indústria, mas ainda predominam as unidades usuais de uso doméstico. Em lojas de varejo, o litro é uma unidade comumente usada para o volume, principalmente em garrafas de bebidas, e miligramas são usadas para denominar as quantidades de medicamentos, em vez de grãos. Além disso, outros sistemas de medição padronizados que não métricos ainda estão em uso internacional, como as milhas náuticas e os nós na aviação internacional.

Um dos objetivos do sistema métrico é ter uma única unidade para cada quantidade física, outro importante objetivo é evitar a necessidade de fatores de conversão ao fazer cálculos com grandezas físicas. Todos os comprimentos e distâncias, por exemplo, são medidos em metros, ou milésimos de um metro (milímetros), ou milhares de metros (quilômetros), e assim por diante. Não há profusão de unidades diferentes, com diferentes fatores de conversão, tais como polegadas, pés, jardas, braças, rods, correntes, furlongs, milhas, milhas náuticas, léguas, etc. Múltiplos e submúltiplos estão relacionados com a unidade fundamental por fatores de potências de dez, para que se possa converter simplesmente movendo o ponto decimal: 1,234 metros é 1234 milímetros, 0,001234 km, etc. O uso de frações, como a 27 de um metro, não é proibido, mas incomum, pois geralmente não é necessário.

História

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Países por data de metrificação. As cores do verde ao vermelho mostram o padrão do sistema métrico entre 1795-1998. A cor preta identifica os países que não adotaram o sistema métrico como o seu sistema primário de medição. A cor branca identifica os países que já utilizavam o sistema métrico no momento em que conquistaram a sua independência.
Os países que adotaram oficialmente o sistema métrico (verde). Apenas três das 203 nações não adotaram oficialmente o Sistema Internacional de Unidades como seu sistema principal ou único de medição: Mianmar, Libéria e Estados Unidos.[7] Os Estados Unidos são o único país industrializado do mundo que tem uma aversão ao uso do Sistema Internacional de Unidades como o sistema predominante de medida.[8]

Em 1585, o matemático flamengo Simon Stevin publicou um pequeno panfleto chamado La Thiende, no qual ele apresentou uma conta elementar e completa de frações decimais e sua utilização diária. Embora ele não tenha inventado as frações decimais e sua notação, ele estabeleceu seu uso na matemática do dia a dia. Ele declarou que a introdução universal da cunhagem decimal, medidas e pesos seria apenas uma questão de tempo. No mesmo ano, ele escreveu La Disme sobre o mesmo assunto.[9]

Há registros de que a primeira ideia de um sistema métrico seja de John Wilkins, primeiro secretário da Royal Society de Londres em 1668, porém a ideia não vingou e a Inglaterra continuou com os diferentes sistemas de pesos e medidas.[10][11][12]

Foi na França onde a ideia de um sistema unificado saiu do papel. A proliferação dos diferentes sistemas de medidas, geralmente baseados em unidades arbitrárias, como partes do corpo do Rei, foi uma das causas mais frequentes de litígios entre comerciantes, cidadãos e cobradores de impostos. Com o país unificado com uma moeda única e um mercado nacional havia um forte incentivo econômico para romper com essa situação e padronizar um sistema de medidas. O problema inconsistente não era as diferentes unidades, mas os diferentes tamanhos das unidades. Ao invés de simplesmente padronizar o tamanho das unidades existentes, os líderes da Assembleia Nacional Constituinte Francesa decidiram que um sistema completamente novo deveria ser adotado.

O Governo Francês fez um pedido à Academia Francesa de Ciências para que criasse um sistema de medidas baseadas em uma constante não arbitrária. Após esse pedido, um grupo de investigadores franceses, composto de físicos, astrônomos e agrimensores, deu início a esta tarefa, definindo assim que a unidade de comprimento metro deveria corresponder a uma determinada fração da circunferência da Terra e correspondente também a um intervalo de graus do meridiano terrestre. Em 22 de junho de 1799 foi depositado, nos Arquivos da República em Paris, dois protótipos de platina iridiada, que representam o metro e o quilograma, ainda hoje conservados no Escritório Internacional de Pesos e Medidas (Bureau international des poids et mesures) na França.[13]

Em 20 de maio de 1875[13] um tratado internacional conhecido como Convention du Mètre (Convenção do Metro), foi assinado por 17 Estados. Este tratado estabeleceu as seguintes organizações para conduzir as atividades internacionais em matéria de um sistema uniforme de medidas:

  • Conférence Générale des Poids et mesures (CGPM), uma conferência intergovernamental de delegados oficiais dos países membros e da autoridade suprema para todas as ações;
  • Comité international des poids et mesures (CIPM), composta por cientistas e metrologistas, que prepara e executa as decisões da CGPM e é responsável pela supervisão do Bureau Internacional de Pesos e Medidas;
  • Bureau International des Poids et mesures (BIPM), um laboratório permanente e centro mundial da metrologia científica, as atividades que incluem o estabelecimento de normas de base e as escalas das quantidades de capital físico e manutenção dos padrões protótipo internacional.

Em 1889, a 1ª CGPM definiu os protótipos internacionais de metro e quilograma[13] e as próximas conferências definiram as demais unidades que hoje são as bases do SI. A partir da criação destas organizações todo e qualquer assunto relacionado a medição são de sua responsabilidade. Mais tarde, a CGPM estabeleceu que o sistema métrico internacional seria designado Sistema Internacional, com abreviatura SI em todos os idiomas.[13]

Países lusófonos

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A introdução do sistema métrico decimal francês em Portugal foi defendida por José de Abreu Bacelar Chichorro logo em 1795. [14] A sua proposta, que previa a adopção do sistema francês com nomes portugueses, foi retomada por uma comissão especializada em 1812-1814. [15] O Príncipe Regente, futuro rei D. João VI, viria em 1814 a decretar a introdução do sistema métrico em Portugal e seus domínios, tendo sido fabricados e distribuídos novos padrões. [16] O processo acabaria no entanto por ser interrompido já na época da revolução liberal. O sistema métrico decimal só viria a ser introduzido pelo Decreto de 13 de dezembro de 1852, agora com a própria terminologia original francesa. O Decreto de 20 de junho de 1859 estabeleceu como obrigatório o uso exclusivo do sistema métrico. Este decreto entrou em vigor para as medidas lineares, em Lisboa a 1 de janeiro de 1860 e nas restantes localidades a 1 de março do mesmo ano. A obrigatoriedade da utilização das restantes medidas entrou em vigor, em todo o território nacional, em 1 de janeiro de 1862.

No Brasil, e não sem muita controvérsia, o imperador D. Pedro II, através do Decreto nº 1157, de 26 de junho de 1862, mandou substituir em todo o Império o antigo sistema pelo sistema métrico decimal, na época chamado de sistema métrico francês. O Decreto dava um prazo de 10 anos para a substituição total, autorizava a mandar vir da França os padrões do sistema, e determinava a organização de tabelas comparativas para facilitar a conversão das medidas de um sistema para outro. Em 1872, foi finalmente promulgado um Decreto Imperial que aprovava as instruções provisórias para a execução da referida lei de 1862.[17] Assim, o sistema métrico foi adotado na prática somente em 1872.[18][19] A execução da reforma teve como consequência a Revolta do Quebra-Quilos.

Outros países

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O Reino Unido adotou oficialmente o SI em 1965, mas sem a intenção de substituir inteiramente seu próprio sistema usual de medidas.

O SI foi adotado globalmente por praticamente todos os países. As três exceções são Myanmar, Libéria e os Estados Unidos.

Ver também

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Referências

  1. The World Factbook. (2006). Washington: Central Intelligence Agency. Acessado em 8 de agosto de 2006 de Appendix G.
  2. «African Development Bank - World Bank Joint Assistance Strategy 2008-2011 and eligibility to the Fragile States Facility» (PDF). PDF Document. African Development Bank. Novembro de 2008. p. i. Consultado em 24 de abril de 2010 
  3. Dr. Michael D. Wilcox, Jr. Department of Agricultural Economics University of Tennessee (2008). «Reforming Cocoa and Coffee Marketing in Liberia» (PDF). Presentation and Policy Brief. University of Tennessee. Consultado em 25 de abril de 2010. Arquivado do original (PDF) em 24 de junho de 2010 
  4. http://www.cl.cam.ac.uk/~mgk25/metric-system-faq.txt
  5. «Statutory Instrument 2002 No. 3113 The Traffic Signs Regulations and General Directions 2002». Her Majesty's Stationery Office (HMSO). 2002. Consultado em 18 de março de 2010 
  6. HK Weights and Measures Ordinance
  7. http://www.nist.gov/ts/wmd/metric/upload/1136a.pdf
  8. http://metricviews.org.uk/2010/01/will-the-european-commission-challenge-us-labelling-rules/
  9. «Simon Stevin». Consultado em 29 de abril de 2013 [ligação inativa]
  10. An Essay towards a Real Character and a Philosophical Language (Reproduction)
  11. An Essay towards a Real Character and a Philosophical Language (Transcription)
  12. Metric system 'was British' - from the BBC video news
  13. a b c d BRASIL, Nilo Indio do. Sistema Internacional de Unidades. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2002. ISBN 85-7193-063-5.
  14. L. Seabra Lopes, A Metrologia em Portugal em Finais do Século XVIII e a 'Memória sobre Pesos e Medidas' de José de Abreu Bacelar Chichorro (1795), Revista Portuguesa de História, vol. 49, 2018, p. 157-188.
  15. L. Seabra Lopes, Comissão dos Pesos e Medidas, Dicionário Histórico Biográfico, Academia das Ciências de Lisboa, 2025.
  16. J.B. Silva Lopes, Memoria sobre a Reforma dos Pezos e Medidas em Portugal segundo o Sistema Metrico-Decimal, Imprensa Nacional, Lisboa, 1849.
  17. «Decreto Nº 5089, de 18 de setembro de 1872». Portal da Câmara dos Deputados. 18 de setembro de 1872. Consultado em 3 de julho de 2019 
  18. CORSO, Jairo L. «Quanto pesa o peso». Clube filatélico e numismático de Taquara/RS. Consultado em 19 de fevereiro de 2012 
  19. História da Metrologia - Adoção do Sistema Métrico Decimal Arquivado em 17 de março de 2008, no Wayback Machine. Acesso em 30 de junho de 2009

Ligações externas

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